quarta-feira, 26 de novembro de 2014

RASTROS NA AREIA



O sonho que tive esta noite
Foi o exemplo de amor
Sonhei que na praia deserta
Eu caminhava com Nosso Senhor

Ao longo da praia deserta
Quis o Senhor me mostrar
Cenas por mim esquecidas
De tudo que fiz nesta vida
Ele me fez recordar

Cenas das horas felizes
Que a mesa era farta na hora da ceia
Por onde eu havia passado
Ficaram dois pares de rastros na areia
Então o Senhor me falou
"Em seus belos momentos passados
Para guiar os seus passos
Eu caminhava ao seu lado"

Porém minha falta de fé
Tinha que aparecer
Quando passavam as cenas
Das horas mais tristes de todo o meu ser

Então ao Senhor reclamei
"Somente seu rastro ficou
Quando eu mais precisava
Quando eu sofria e chorava
O Senhor me abandonou"

Naquele instante sagrado
Que ele abraçou me dizendo assim
"Usei a coroa de espinhos
Morri numa cruz e duvidas de mim
Filho esses rastros são meus
Ouça o que vou lhe dizer
Nas suas horas de angústias
Eu carregava você!

Versão: Duduca e Dalvan

sexta-feira, 13 de junho de 2014

A DOR DO ABANDONO


Era uma manhã de sol quente e céu azul, quando o caixão contendo um corpo sem vida foi baixado à sepultura. De quem se trata? Quase ninguém sabe. Poucas pessoas acompanham o féretro. Ninguém chora. Ninguém sentirá a falta dela. Ninguém para dizer adeus ou até breve.
Depois que o corpo desocupou o quarto do asilo, onde aquela mulher passou boa parte da sua vida, a responsável pela limpeza encontrou em uma gaveta ao lado da cama, umas anotações. Um diário sobre a dor... Sobre a dor que ela sentiu por ter sido abandonada pela família num lar para idosos... Talvez o sofrimento fosse muito maior, mas as palavras só permitem extravasar uma parte desse sentimento, gravado em algumas frases:
Onde andarão meus filhos? Aquelas crianças sorridentes que embalei em meu colo, alimentei com meu leite, cuidei com tanto desvelo, onde estarão? Estarão tão ocupadas? Talvez, que não possam me visitar, ao menos para dizer olá, mamãe? Ah! Se eles soubessem como é triste sentir a dor do abandono... A mais deprimente solidão... Se ao menos eu pudesse andar...
Mas dependo das mãos generosas dessas moças que me levam todos os dias para tomar sol no jardim... Jardim que já conheço como a palma da minha mão.
Os anos passam e meus filhos não entram por aquela porta, de braços abertos, para me envolver com carinho...
Os dias passam... E com eles a esperança se vai... No começo, a esperança me alimentava, ou eu a alimentava, não sei... Mas, agora... Como esquecer que fui esquecida? Como engolir esse nó que teima em ficar em minha garganta, dia após dia?
Todas as lágrimas que chorei não foram suficientes para desfaze-lo. Sinto que o crepúsculo desta existência se aproxima... Queria saber dos meus filhos... Dos meus netos... Será que ao menos se lembram de mim? A esperança, agora, parece estar atrelada aos minutos... Que a arrastam sem misericórdia... para longe de mim.
Às vezes, em sonhos, vejo um lindo jardim... É um jardim diferente, que transcende os muros deste albergue e se abre em caminhos floridos que levam a outra realidade, onde braços afetuosos me esperam com amor e alegria... Mas, quando eu acordo, é a minha realidade que eu vejo... Que eu vivo... Que eu sinto... Um dia alguém me disse que a vida não se acaba num túmulo escuro e silencioso... Que a vida continua após a morte, de uma outra forma... Mas com certeza a minha matéria, a minha mente, o meu eu dessa vida que vivo agora, com o nome que tenho... Nunca mais existirá! E quando a morte chegar, só restará a saudade que com o passar do tempo se ameniza... (se é que alguém vai sentir saudade de mim, já que não sentem enquanto ainda estou viva neste asilo)
Sinto que a minha hora está chegando. Depois que eu partir, gostaria que alguém encontrasse essas minhas anotações e as divulgasse. E que elas pudessem tocar os corações dos filhos que internam seus pais em asilos, e jamais os visitam... Que eles possam saber um pouco sobre a dor de alguém que sente o que é ser abandonado... Pensai que a cada pai e a cada mãe Deus perguntará: "- O que fizestes do filho confiado a vossa guarda?" e aos filhos: "- O que fizestes aos vossos pais?".


sábado, 10 de maio de 2014

RETRATO DE MÃE


Quando Deus criou a mãe, já estava nas horas extras do seu sexto dia de trabalho.
Um anjo apareceu e disse-lhe: “Senhor, por que gastas tanto tempo com esta obra?”.
DEUS: Viste a minha folha de especificações para ela? Precisa ser completamente lavável, mas não ser de plástico; ser capaz de funcionar com toda a energia, mesmo que esteja em jejum; ter um colo que acomode quatro crianças ao mesmo tempo; ter um beijo que possa curar desde um joelho arranhado até um coração ferido, e fazer isso tudo com apenas duas mãos.
ANJO: Com apenas duas mãos? Impossível! E este é o modelo padrão? É muito trabalho para ela!
DEUS: Ela também enxerga os filhos através das paredes, vê suas necessidades sem que eles precisem dizer nada, se cura sozinha quando está doente, alimenta uma família com qualquer coisa e consegue trabalhar dezoito horas por dia.
ANJO: Mas ela parece tão frágil, Senhor!
DEUS: Ela é frágil por fora, mas muito forte por dentro. Não fazes ideia do que ela pode suportar e conseguir.
ANJO: Ela é capaz de pensar?
DEUS: Não só de pensar, mas também de raciocinar e negociar.
ANJO: Senhor, parece que este modelo tem um vazamento…
DEUS: Isso não é um vazamento… É uma lágrima.
ANJO: E para que serve uma lágrima?
DEUS: As lágrimas são a sua maneira de expressar alegria, tristezas, desengano, o seu amor, a sua solidão, o seu sofrimento e o seu orgulho.
ANJO: És um gênio, Senhor. Pensaste em tudo. A mãe é verdadeiramente maravilhosa!
DEUS: Sim, ela é! A mãe tem forças que maravilham os homens. Elas cantam quando gostariam de gritar. Choram quando estão felizes e riem quando estão nervosas. Lutam pelo que acreditam. Enfrentam a injustiça. Não aceitam um “não” como resposta quando acham que existe uma solução melhor. Privam-se para que a família tenha algo. Acompanham ao médico quem tem medo de ir sozinho. Amam incondicionalmente. Choram quando os filhos triunfam e se alegram quando os amigos vencem. Sabem que um beijo e um abraço podem ajudar a curar um coração ferido. São feitas de todas as cores, medidas e formas. Transmitem luz, alegria, esperança, compaixão e ideais. O coração das mães é maravilhoso!


sexta-feira, 9 de maio de 2014

O TEMPO E AS JABUTICABAS


"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver
daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela
menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela
chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos
para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem
para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir
estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões
de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo
majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas
não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a
essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente
humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta
com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não
foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados,
e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse
amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo."

O essencial faz a vida valer a pena.

Rubem Alves
(Blog Olhares e Saberes)

quinta-feira, 13 de março de 2014

DEFINIÇÃO DE AMOR


Um senhor de idade chegou a um consultório médico, pra fazer um curativo em sua mão, na qual havia um profundo corte.E muito apressado pediu urgência no atendimento, pois tinha um compromisso.O médico que o atendia, curioso perguntou o que tinha de tão urgente pra fazer.O simpático velhinho lhe disse que todas as manhãs ia visitar sua esposa que estava em um abrigo para idosos, com mal de Alzheimer muito avançado.O médico muito preocupado com o atraso do atendimento disse:- Então hoje ela ficará muito preocupada com sua demora?No que o senhor respondeu:- Não, ela já não sabe quem eu sou. Há quase cinco anos que não me reconhece mais.O médico então questionou:- Mas então para quê tanta pressa, e necessidade em estar com ela todas as manhãs, se ela já não o reconhece mais?O velhinho então deu um sorriso e batendo de leve no ombro do médico e respondeu:- Ela não sabe quem eu sou… Mas eu sei muito bem quem ela é!O médico teve que segurar suas lágrimas enquanto pensava…O verdadeiro AMOR, não se resume ao físico, nem ao romântico…O verdadeiro AMOR é aceitação de tudo que o outro é…De tudo que foi um dia… Do que será amanhã… e do que já não é mais!

 ( Estados de alma )
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