quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

TORRADAS QUEIMADAS!



Quando eu ainda era um menino, ocasionalmente, minha mãe gostava de fazer um lanche, tipo café da manhã, na hora do jantar. E eu me lembro especialmente de uma noite, quando ela fez um lanche desses, depois de um dia de trabalho, muito duro.

Naquela noite longínqua, minha mãe pôs um prato de ovos, linguiça e torradas bastante queimadas, defronte ao meu pai. Eu me lembro de ter esperado um pouco, para ver se alguém notava o fato. Tudo o que meu pai fez, foi pegar a sua torrada, sorrir para minha mãe e me perguntar como tinha sido o meu dia, na escola.

Eu não me lembro do que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele lambuzando a torrada com manteiga e geléia e engolindo cada bocado.

Quando eu deixei a mesa naquela noite, ouvi minha mãe se desculpando por haver queimado a torrada. E eu nunca esquecerei o que ele disse:

" - Amor, eu adorei a torrada queimada... só porque veio de suas mãos"

Mais tarde, naquela noite, quando fui dar um beijo de boa noite em meu pai, eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado da torrada queimada.

Ele me envolveu em seus braços e me disse:

" - Companheiro, sua mãe teve um dia de trabalho muito pesado e estava realmente cansada... Além disso, uma torrada queimada não faz mal a ninguém. A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são perfeitas. E eu também não sou o melhor marido, empregado, ou cozinheiro!"

O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma das chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e duradouros.

Desde que eu e sua mãe nos unimos, aprendemos, os dois, a suprir um as falhas do outro.

Eu sei cozinhar muito pouco, mas aprendi a deixar uma panela de alumínio brilhando, ela não sabe usar a furadeira, mas após minhas reformas, ela faz tudo ficar cheiroso, de tão limpo. Eu não sei fazer uma lasanha de frios como ela, mas ela não sabe assar uma carne como eu. Eu nunca soube fazer você dormir, mas comigo você tomava banho rápido, sem reclamar e brincávamos juntos durante este tempinho, com sua mãe você chorava, pelo shampoo, pelo pentear, etc

A soma de nós dois monta o mundo que você recebeu e que te apoia, eu e ela nos completamos. Nossa família deve aproveitar este nosso universo enquanto temos os dois presentes. Não que mais tarde, o dia que um partir, este mundo vá desmoronar, não vai, novamente teremos que aprender e nos adaptar para fazer o melhor.

De fato, poderíamos estender esta lição para qualquer tipo de relacionamento: entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos, colegas e com amigos.

Não ponha a chave de sua felicidade no bolso de outra pessoa, mas no seu próprio. Veja pelos olhos de Deus e sinta pelo coração dele; você apreciará o calor de cada alma, incluindo a sua.

As pessoas sempre se esquecerão do que você lhes fez, ou do que lhes disse. Mas nunca esquecerão o modo pelo qual você as fez se sentir.

Desconheço autoria


AS TRÊS SOMBRAS



Numa estrada deserta, em noite fria, deslizavam, tristes, três sombras encapuzadas e perdidas em si mesmas. 

Seguiam quase mudas, mas, de quando em quando, entreolhavam-se inquietas e murmuravam expressões sem nexo. 

Numa curva inesperada, num encontro de vários caminhos, pararam, observaram e, antes de seguirem rumos diferentes, apresentaram-se. 

A primeira, a mais alta e negra, aproximou-se das demais e, gargalhando, esclareceu: 

Eu sou a ira. Faço-me de caminho mais curto para a morte. Vivem comigo o desespero e a tragédia. Trajo-me de orgulho. O ódio segue-me os passos e calço-me com as sandálias da revolta.

Acompanho o homem desde que o mundo é mundo e pretendo viver com ele eternamente... 

Todos me acolhem a toda hora, sem indagação nem exigência. Com um simples apelo sou recebida com prazer em toda parte. Sou feliz assim e gosto de atrair todo mundo a mim. 

A segunda sombra, tristonha e trêmula, falou receosa: 

Eu me chamo medo. Sou a porta larga que conduz à loucura. Ando despido, mas tenho grande força. 

E, olhando para a ira, falou com arrogância: 

Você é facilmente vencida por alguns minutos de meditação, prece, perdão, e suas companheiras morrem assim que a humildade se apresente. Mas eu sou invencível! 

Escondo-me na luz e nas trevas, entre sábios e ignorantes, grandes e pequenos, ricos e pobres. Moro em todo lugar. Como rei, cerco-me de bajuladores fiéis: a dúvida, o receio, a desconfiança, o pavor... 

Fez-se breve intervalo e as duas megeras se olharam, quase sorrindo e, fitando a terceira companheira, perguntaram ansiosas: 

Quem és tu, filha da tristeza? 

Eu? - Inquiriu a sombra pesarosa - Sou vossa irmã. 

E qual é teu nome? Indagaram numa só voz. 

Bem, eu até nem sei ao certo... 

Uns chamam-me de infortúnio, outros de felicidade e muitos de desgraça. Sempre vivi errante, perseguida, odiada. Jamais pude sorrir. 

E, fechando os olhos como quem se recorda de algo, falou com grande emoção: 

Um dia, numa estrada como esta, encontrei Alguém que sorriu para mim. Era moço, alto e belo. Tinha olhos mansos e meiga voz, embora Seu rosto refletisse tristeza imensa... 

Logo depois, fitou-me comovido e, mudo, passou... 

Notei que muitos O seguiam, chamando-Lhe Mestre. 

Tempos depois eu O encontrei novamente. 

Era noite e Ele orava num lugar sombrio, chamado Horto das Oliveiras... 

Olhei-O e Ele reconheceu-me. Seu rosto suado cobriu-Se com ligeiro sorriso e Ele disse-me: "Não desfaleças irmã! Segue tua trilha." 

Daquele momento em diante não O deixei mais... 

Acompanhei-O atado a cordas, suportando os golpes do chicote dilacerando-Lhe as carnes, a fúria dos perseguidores, a solidão, o abandono... 

E quando Ele Se agitava na cruz, cercado da multidão encolerizada, fitou-me quase sem forças e murmurou só para mim: 

"Avança, missionária. Longa, difícil e bela é a tua tarefa. Não mais seguirás a ira e o medo. Serás minha mensageira ao mundo desatento... 

Caminharás só e incompreendida, ensinando em silêncio... 

De quando em quando, terás a companhia das lágrimas e da saudade, mas em teu caminho deixarás esperança e paz. 

Vai, dor irmã. E em meu nome ergue as minhas ovelhas. Chama-as a mim. Fala-lhes da paciência e da resignação, da coragem e bom ânimo." 

E depois de rápida pausa concluiu: Sou a dor. Acompanhei Aquele moço belo, de olhos mansos e meiga voz, até os últimos minutos de Sua breve existência entre os homens. 

E é em nome Dele que busco Suas ovelhas e as conduzo ao Seu aprisco. 

Houve profundo silêncio... O vento soprou mais forte e, despedindo-se, as três sombras seguiram cada uma por caminho diferente.




Coração que brilha...


Passei por um coração...
Ele chorava...
Meus passos hesitaram...
Bem quis seguir em frente,
Mas aquele coração muito sofria...

Percebi uma porta entreaberta
Despejando mágoas...
Entrei...
Tudo tão escuro... Sem luz que
Pudesse clarear o caminho.

Nunca vira coração mais triste...
Preso na morbidez do desencanto,
Do amor ferido...
Pulsando sentimentos fora do lugar.

Afaguei aquele coração...
Limpei angústias...
Lustrei o amor...
Deixei em cada canto um sorriso...

Parti sem que ele notasse
Minha presença...
Muito distante, olhei para trás...
Havia o brilho da vida...
E sorri... Seguindo minha estrada!
Cida Luz
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