Hoje Acordei sentindo uma dorzinha.
Aquela dor sem explicação e uma palpitação.
Resolvi procurar um Doutor e fui divagando pelo caminho. Lembrei daquele médico que
me atendia vestido de branco. E que pra mim tinha um pouco de pai, de amigo e de anjo. O meu doutor que curava a minha dor, não apenas a do meu corpo mas a da minha alma, que me transmitia paz e calma.
Chegando à recepção do consultório fui atendida com uma pergunta:
- Qual o seu plano?
- O meu plano?
-Ah, o meu plano é viver mais e feliz! É dar sorrisos, aquecer os que sentem frio e
preencher esse vazio que sinto agora!
Mas a resposta teria que ser outra:
O “Meu plano de saúde”...
Apresentei o documento do dito cujo, já meio suado, tanto quanto o meu bolso e aguardei.
Entrei e o olhei, me surpreendi... Rosto trancado, triste e cansado. Será que ele estava
adoentado? Quem sabe, talvez gripado. Não tinha uma expressão alegre, provavelmente
devido à febre. Dei um sorriso meio de lado e um bom dia. Olhei o ambiente bem decorado.
Sobre a mesa à sua frente, um computador. E no seu semblante, uma dor.
O que fizeram com o Doutor?
Quando ouvi sua voz, de repente:
- O que a Sra. sente?
Como eu gostaria de saber o que ELE estava sentindo, pois parecia mais doente que eu, a
paciente...
- Eu? Ah! Sinto uma dorzinha na barriga e uma palpitação.
Esperei a sua reação.
Pensei: Vai me examinar, escutar a minha voz, auscultar meu coração...
Para minha surpresa, apenas me entregou uma requisição e disse:
- Peça autorização desses exames para conseguir a realização.
Quando li, quase morri.
“TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA”,
“RESSONÂNCIA MAGNETICA”
e “CINTILOGRAFIA”
Ai meu Deus, que agonia!
Eu só conhecia uma tal de “abreugrafia”!
Só sabia o que é estar a “ressonar” (dormir)
De “magnético”, eu conhecia um olhar...
E “cintilar”, só o das estrelas!
Estaria eu à beira da morte? De ir para o céu?
Iria morrer assim ao léu?
Naquele instante, timidamente, pensei em falar: terá o senhor amostra grátis de calor
humano para aquecer esse meu frio? Que fazer com essa sensação de vazio?
Observe, doutor, o “tal pai da Medicina”, o grego Hipócrates acreditava que:“A ARTE DA MEDICINA ESTAVA EM OBSERVAR”
Olhe pra mim... É bem verdade que o juramento dele está ultrapassado! Médico não é
sacerdote, tem família e todo os problemas inerentes ao humano. Mas, por favor, me olhe,
ouça a minha história! Preciso que o senhor me escute, ausculte e examine. Estou sentindo
falta de dizer até “aquele 33”! Não me abandone assim de uma vez! Procure os sinais da
minha doença e cultive a minha esperança! Alimente a minha mente e o meu coração, me
dê, ao menos, uma explicação! O senhor não se informou se eu ando descalço... ando sim!
Gosto de pisar na areia e seguir em frente, deixando as minhas pegadas pela estrada da
vida. Estarei errada? Ou estarei com o verme do amarelão? Existirá uma gotinha de
solução? Será que existe vacina contra o tédio? Ou não terá remédio? Que falta o senhor me
faz, meu antigo doutor! Cadê o Scoot, aquele da emulsão? Que tinha um gosto horrível,
mas me deixava forte que nem “um Sansão”! E o elixir? Paregórico e categórico? E o
chazinho de cidreira que me deixava a sorrir sem fronteiras? Será que pensei asneiras?
Ah, meu querido e adoentado Doutor, sinto saudades dos seus ouvidos para me escutar, das
suas mãos para me examinar, do seu olhar compreensivo e amigo...
Do seu pensar...
O seu sorriso que aliviava a minha dor, que dava forças para lutar contra a doença e que
estimulava a minha saúde e a minha crença... Sairei daqui para um ataúde? Preciso viver e
ter saúde! Por favor, me ajude!
Oh, meu Deus! Cuide do meu médico e de mim, caso contrário, chegaremos ao fim...
Porque da consulta só restou uma requisição digitada em um computador, e o olhar vago e
cansado do Doutor! Precisamos urgente dos nossos médicos amigos, a medicina agoniza,
ouço até os seus gemidos. Por favor, tragam de volta o meu Doutor! Estamos todos doentes
e sentindo dor... Peço para o ser humano uma receita de “calor” e, para o exercício da
medicina, uma prescrição de “amor”!
ONDE ANDARÁ O MEU DOUTOR?
(Autor ou Paciente Desconhecido)