terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Brincador


" Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro ou professor. 
Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for. 
Quero brincar de manhã à noite, seja com o que for. 
Quando for grande, quero ser um brincador.
Ficam, portanto, a saber: não vou para a escola aprender a ser um médico, um engenheiro ou um professor. 

Tenho mais em que pensar e muito mais que fazer. 
Tenho tanto que brincar, como brinca um brincador, muito mais o que sonhar, como sonha um sonhador, e também que imaginar, como imagina um imaginador ...
A minha mãe diz que não pode ser, que não é profissão de gente crescida. 

E depois acrescenta, a suspirar: "é assim a vida". 
Custa tanto a acreditar. 
Pessoas que são capazes, que um dia também foram raparigas e rapazes, mas já não podem brincar.
A vida é assim ? Não para mim. 

Quando for grande, quero ser um brincador. 
Brincar e crescer, crescer e brincar, até a morte vir bater à minha porta. 
Depois também, sardanisca verde que continua a rabiar mesmo depois de morta. 
Na minha sepultura, vão escrever: «Aqui jaz um brincador. 
Era um homem simples e dedicado, muito dado, que se levantava cedo todas as manhãs para ir brincar com as palavras. "
                                        O Brincador de Álvaro Magalhães

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